Julio Caldeira*
A morte da modelo capixaba Mariana Bridi, que aos 20 anos morreu de infecção generalizada em razão de complicações por bactérias que lhe provocaram uma infecção urinária, que repercutiu inclusive no exterior. Põe a sociedade novamente a uma discussão: a supervalorização ao corpo.
São Corriqueiras e notórias as informações dos bastidores das vidas das modelos (símbolo pós-moderno da beleza). Casos de anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares são comuns. Assim como também é ordinário saber que tais problemas acarretam na baixa da imunidade na saúde da pessoa – o que, evidentemente, não responde o porquê da causa da infecção sepse, que ocorreu na modelo capixaba, mas, chama a atenção para uma discussão sobre o culto à beleza.
Segundo o filósofo Platão de Atenas (427-347 a.C) nos diálogos de Fedão, na fundamentação do puro para uma compreensão ontológica – que estuda a natureza do ser, da realidade, da existência dos entes e das questões metafísicas-, o culto ao corpo se opõe à verdadeira importância: a sabedoria.
Fruto de uma valorização exagerada à aparência (baseada em certos padrões estéticos estimulados pela pressão social) o culto à beleza, é, para o filósofo, uma espécie de aprisionamento. Hoje, esta idealização massificada do belo faz com que o indivíduo se reduza a um objeto que só tem real valor dentro das regras e padrões preestabelecidos.
A questão que discutimos não é referente à mudança radical dos hábitos das pessoas. Ou seja, não é colocar a busca pela purificação fundamental da verdade, tal qual em Platão, mas, sim, avaliarmos o problema social que representa esse culto ao corpo, talvez próximo ao conceito do também filósofo, o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900).
Para ele o corpo é considerado o fio condutor para a análise de quaisquer questões filosóficas e o erro da filosofia tradicional foi a exclusão do corpo. Portanto, o corpo deve ser afirmado, pois se apresenta como uma vivência.
Essa analise, coloca o “conceito de corpo” na contemporaneidade e tem a intenção de demonstrar que, embora exista um apelo ao belo, esse corpo é tratado como coisa, ou seja, como mercadoria.
Enfim, por trás de um discurso favorável à beleza, à saúde e ao cuidado, permanentemente, estão ocultos interesses, sobretudo, o econômico. Portanto, segundo Nietzsche, no culto ao corpo, se revelam ideologias políticas, econômicas, éticas e estéticas.
A partir destas explanações, o que temos que avaliar como sociedade é: primeiramente, por qual motivo aceitamos o processo da ditadura do costume – a herança massificada da definição do que é belo; segundo, porque não questionamos a propagação desse valor distorcido. E, por fim, como saberemos qual é o equilíbrio entre o cuidar da mente e do corpo. A proposta é difícil, porém, necessária. E mais: é nossa função enquanto cidadão consciente.