sábado, 29 de setembro de 2007

Armstrong em solo lunar


Seria radiofônico se houvesse Meios de Comunicação de Massa sem jabá. Seria reggae, se não fosse também o ragga, o pop, o dub e o ska. Seria original se, antes, Joe Strummer, não fosse assim tão criativo e visceral. Para “A Poet’s Life”, o disco solo de Tim Armstrong, só se tem uma definição: agradavelmente colossal

Esse cara é uma das grandes figuras musicais da atualidade, já tocou no Operation Ivy, e ainda toca no Rancid, que, reza a lenda, terá um disco pronto ainda em 2007 - estou esparando impacientemente - e no Transplants, que afinal, é um puta projeto.

Com certeza no, "A Poet's Life", os fãs de ska e reggae Jamaico-inglês com climão surf-punk-rock californiano vão pirar. Só para se ter uma idéia, o cara chamou os Aggrolites (banda que toca old school reggae com funk e soul) para serem o apoio no disco, ou seja, a melhor banda de reggae surgida nos últimos tempos. E, com ela, Tim Armstrong explora sonoridades que vão desde o "Ska 2 Tone" (The Specials e Cia), com tecladinhos jazzístico "Mod" inglês dos anos 60 e 70 e uma pitada de "Ragga" jamaicano, e vai até o reggae e todas as suas variáveis (skinhead reggae, dub, roots e etc...). O mais legal é que tudo isso se harmoniza numa musicalidade com pegada pop bem definida e agradavelmente colossal.

Tim Armstrong: A Poet's Life

Abra uma cerveja e ouça!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O silêncio pretensioso dos últimos dias


Raiva, desespero, sofrimento e sede de morte, o filme “Last days”, de Gus Van Sant (Gênio indomável e Elephant) , consegue ser, ao mesmo tempo, chato e pretensioso. Sua temática é inspirada nos últimos dias de Kurt Cobain e faz referência ao poeta esquisito inglês William Blake, porém, sem seus ideais libertários e visões de anjo. Muito pelo contrário, o personagem central, interpretado por Michael Pitt é alienado e introspectivo. As suas visões são estereótipos da “Divina comédia” e seu mundo doentio como uma civilização empesteada. A falta de diálogos e ritmo lento leva o espectador a essa sensação. É nítida a intenção sacra e poética do silêncio habitada no filme, que o coloca numa ambientação próxima do documental e é essa falsa idéia que o torna enfadonho e afetado feito um tique nervoso de um dependente químico alucinado.

O apelo religioso, a mansão em ruínas imitando um castelo medieval, bem que lembram as ilustrações de Willian Blake e o período em que vivia Dante. O clima e as cores são totalmente europeus, ou uma Seattle recortada no imaginário místico de uma América solitária e depressiva que se amplifica com as visitas dos jovens mórmons, que transmitem no olhar medo, curiosidade e vontade se serem devorados e a aparição de um vendedor de anúncios nas páginas amarelas da lista telefônica frio, calculista, utilitarista e pragmático. De alguma forma é um raios-X no seio do estilo de vida norte americano: o imaculado trágico abismo de languidez, solidão, desespero e abuso de drogas, de um povo que impotentemente domina o mundo.

Uma boa crítica do filme está no: Pasmos Filtrados

Sobre o diretor Gus Van Sant na: Revista Época online

quarta-feira, 6 de junho de 2007

30 anos de Bad Brains


Build a Nation

O novo álbum do Bad Brains, “Build a Nation”, tem a produção de Adam Yauch, dos Beasties Boys e conta com a sua formação original: o rastaman de voz poderosa e atitudes punks nos palcos H.R., o virtuoso criador de várias frases de guitarra Dr. Know, o baixista marcador pesado Darryl Jenifer e o baterista de mãos nervosas nas partes rápidas e punhos precisos nos reggaes Earl Hudson. Esse é o primeiro do grupo desde 1995, quando foi lançado “God of Love”, que, diga-se de passagem, também é um discaço.

O Bad Brains é uma das bandas primordiais do punk rock e a previsão para o lançamento de seu álbum é dia 26 de julho, mas já pode ser encontrado no soulseek desde jah (putz, trocadilho horroroso).

O disco é fenomenal, tem o dedo Beastie Boy de Adam, que evidenciou na banda o que eles já vinham procurando: um toque dub contemporâneo, mas sem perder a pegada HC. Com a modernice, a banda ganhou um coro vocal maravilhoso com direito a muito eco e sobreposições de guitarras. A marcação firme e auto-sustentável da junção baixo e bateria continua como sempre: implacável. O disco é recheado de hc, reggae e punk rock.
As faixas de “Build a Nation” são:


01. Give Thanks and Praises
02. Jah People Make the World Go Round
03. Pure Love
04. Natty Dreadlocks ‘pon the Mountaintop
05. Build a Nation
06. Expand Your Soul
07. Jah Love
08. Let There Be Angels (Just Like You)
09. Universal Peace
10. Roll On
11. Until Kingdom Comes
12. In the Beginning
13. Send You No More Flowers
14. Peace Be Unto Thee

Bad Brains: Build a Nation


*Histórico da banda

Considerada como uma das mais influentes, essa banda americana formada em Washington, DC em 1977, completa 30 anos de muita quebradeira. Eles são considerados os pioneiros do Hardcore ao misturar jazz fusion com punk rock acelerado, intenso e musicalmente mais complexo que os seus contemporâneos. E não pararam aí, na década de 80 eles foram os primeiros a fazer a fusão do heavy metal com o funk, além de serem adeptos da música reggae e seguidores do Rastaffari.

Na verdade tudo começou assim: O grupo foi formado com o nome de Mind Power pelo guitarrista de jazz fusion Dr. Know (vulgo Gary Miller) em 1977, que chamou o vocalista Sid McCray, o baixista Darryl Jennifer e o baterista Earl Hudson. O som inicialmente era basicamente Funk e Jazz Fusion. Ainda em 1978, o vocalista apresenta o punk rock para o resto da banda, que já andava escutando Black Sabbath. Isso mudou toda a percepção da banda, que mudou o nome para Bad Brains, título de uma música dos Ramones.

Antes de a banda gravar, McCray é substituído por H.R, irmão do baterista. Foi nesse período que eles se converteram ao Rastafari. Suas perfomances sempre foram lendárias e eles usavam a raridade como estratégia de divulgação, pois suas gravações eram difíceis de serem achadas. O primeiro single 'Pay To Cum', foi prensado em poucas cópias e em 1982 o álbum “debut” foi lançado apenas em formato de fita cassete, intitulada 'ROIR'. Em seguimento ao lançamento da fita, o grupo lançou outros EP's até chegar em 1982, ano que são contratados pela gravadora PVC lançando logo em seguida o clássico album 'Rock For Light', que foi produzido por Ric Ocasek (ex-integrante do grupo new-wave The Cars).

Com os gloriosos tempos de banda independente para trás, os shows começaram a ficar para trás também, fazendo assim a banda lendária no Hardcore Americano, pois poucos fãs podiam realmente escutar a banda devido a fraca distribuição do álbum e um agendamento para shows quase nulo. A banda demorou quase três anos para lançar outro álbum de estúdio, mas finalmente em 1986 sai o clássico 'I Against I'. Neste tempo de pausa de um álbum para o outro, o grupo desenvolveu influências de heavy metal e o resultado disso é que o álbum foi severamente criticado e os fãs do começo da banda, torceram o nariz para essas mudanças.

No caso, isso acabou também dividindo a banda com Dr. Know e Daryl desejando a procura de um rock mais pesado e do outro lado, H.R e Earl Hudson procurando devotar-se ao reggae. Mais ou menos três anos depois, H.R e Hudson acabaram saindo para fazer álbuns de reggae, e em 1989 eles são substituídos por Israel Joseph-I (Dexter Pinto) e pelo ex-Cro-Mags Mackie Jayson, respectivamente. Logo em seguida sai dois álbuns ao vivo, um pela gravadora PVC e um independente.

Ainda em 1989 sai o 'Quickness', que, com sua sonoridade mais pesada, influenciada pelos intercâmbios entre o hardcore e o metal, desagradou os que esperavam por algo como o disco anterior. Ainda assim, a maioria dos fãs considera "Quickness" um clássico. Uma curiosidade é que a banda começou a gravar o disco com outro vocalista (vide as discordâncias do parágrafo anterior), mas HR e seu irmão Earl voltaram à banda a tempo de regravar os vocais. Como não era possível regravar a bateria, o disco conta com Mackie Jay nos tambores.

Com a explosão do rock alternativo nos anos 90, finalmente o Bad Brains assinou com uma gravadora grande, a Epic-Sony. Naquele começo de ano foi lançado o album 'Rise'. O álbum foi um fracasso de vendas e a banda foi despedida da gravadora. Alguns anos depois, assinou com a Maverick Records, mas com um porém, só faria o disco com a formação original. E assim é lançado 'God Of Love' em 1995, com péssimas críticas e vendas fracas. Logo depois do lançamento do álbum, H.R e Hudson saíram novamente e por caso de um contrato medonho, a banda perdeu o direito a usar seu nome original, fato que gerou fortes críticas à gravadora. Em 1998, o grupo voltou a tocar com a formação clássica só que com o nome “Soul Brains”.

*Informações coletadas na:

terça-feira, 5 de junho de 2007

"Smetak, Smetak e Musak e Razão"


Anton Walter Smetak, suíço de nascimento - Zurique, 12 de fevereiro de 1913 – e baiano de escolha – Morreu em Salvador no dia 30 de maio de 1984 -, foi um músico exepcional e influenciou uma geração de ídolos nascionais como Gilberto Gil, Caetano Veloso e Marco Antônio Guimarães. De dedicação, inicialmente, à música clássica, um exímio violoncelista, ele chegou ao Brasil em 1937.

Também compositor, escritor, escultor e construtor de instrumentos musicais, Smetak lecionou na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia e fundiu vários elementos eruditos e populares, incrementando o ruído como uma ferramenta sonora. Ele acreditava que nem todo som precisava ser música. E foi com esse princípio que seguiu em sua jornada de pesquisa e confecção artesanal de seus instrumentos, que, acima de tudo, são verdadeiras obras de arte inseridas num suspiro filosófico.

Filho de checos, Smetak desde cedo teve contato com a música. Seu pai era tocador de cítara e foi seu primeiro professor. Embora desejasse tocar piano, um acidente que tirou a coordenação de sua mão direita fez com que estudasse violoncelo. Formou-se no Mozarteum de Salzburg e tornou-se concertista em 1934 no Conservatório de Viena, junto a Pablo Casals.

Contratado por uma Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que ele só descobriu que não existia após sua chegada ao Brasil, em 1937, passou a viver em São Paulo e no Rio de Janeiro, tocando em festas, cassinos e orquestras de rádio. Nesse período, acompanhou cantores em gravações e chegou a tocar com Carmem Miranda.

Ele se mudou para Salvador apenas em 1957, quando foi chamado pelo maestro e compositor alemão Hans Joachim Koellreuter, para ser pesquisador e professor da cadeira “som e acústica” da UFBA. Foi quando conheceu a teosofia e passou a realizar pesquisas sonoras. Construiu uma oficina onde criava instrumentos musicais com tubos de PVC, cabaças, isopor e outros materiais pouco usuais. Alguns dos instrumentos não têm utilidade puramente musical. São esculturas influenciadas por sua forma mística de encarar a música e as estruturas. Ao longo de sua permanência na universidade, o músico construiu cerca de 150 instrumentos, os quais chamou de "plásticas sonoras". Além disso atuou como violoncelista na Orquestra Sinfônica da Universidade Federal da Bahia e também foi escultor e escritor. Participou em 1967 da I Bienal de Artes Plásticas de Salvador e escreveu mais de 30 livros e três peças teatrais.

A partir de 1969, a sua oficina passou a ser freqüentada por Gilberto Gil – que além de aluno passou a ser seu amigo -, Rogério Duarte e Tuzé de Abreu, Gereba, Djalma Correia e Marco Antônio Guimarães. Para executar seus instrumentos, a maioria de execução coletiva, criou, com os alunos da universidade, o "Grupo de Mendigos", que realizou apresentações na Bahia e em São Paulo.

Smetak acreditava que a música microtonal era superior à tonal e construiu ou adaptou muitos instrumentos para a execução desse tipo de música. Para muitos teóricos, essa é a sua maior contribuição para a história da música brasileira, e, quem sabe, mundial. Faleceu no dia 30 de maio de 1984, em Salvador. Suas "plásticas sonoras" encontram-se em exposição na Biblioteca Reitor Macedo Costa, no Campus de Ondina, Salvador.

O escritor Augusto de Campos lembra que Smetak é um ano mais novo que o músico, também experimentalista, norte-americano John Milton Cage. E lamenta que seu primeiro disco (Philips 6349-110) só veio a ser gravado em 1974, produzido por Roberto Santana e Caetano Veloso e montado por Caê e Gil, o LP recebeu um tratamento excepcional até no seu aspecto gráfico, com a bela capa dupla que teve orientação visual de Rogério Duarte. “Não fora o apoio dos baianos, provavelmente Smetak seria até hoje ignorado”, afirma Campos em seu texto “Smetak para quem souber”, que denuncia a falta de memória e de atenção que damos à arte brasileira.

Smetak

Fontes:

http://old.gilbertogil.com.br/smetak/taktak1.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Anton_Walter_Smetak

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Antibalas: a fusão do Brooklyn

Sem sombra de dúvidas que a internet é uma “arma quente” na mão dos ansiosos. Ela ascende, derruba, inventa, mostra, vicia, dilui, machuca e alivia. Não tenho muito saco para a hiperinformação, confesso que não tenho nenhuma paciência para navegar ao léu, fuçar a vida dos outros no orkut, baixar programas e fazer update, bater boca em blog e perder tempo no msn. Eu a utilizo para pesquisar o que ainda não achei nas revistas, nos livro, ou quando não tenho grana (aliás, esse é o maior motivo para o uso dessa ferramenta). Mas, mesmo assim, tenho lá as minhas devassidões, e baixar música é uma delas. Porém o faço com critérios: busco informações, pesquiso cenários e bandas, entro em alguns fóruns e, quando necessário, pergunto para algum navegante moribundo especialista.

Foi assim que eu conheci o “Antibalas Afrobeat Orchestra”, em 2004, ao pesquisar sobre a cena musical novaiorquina. Na época, eles estavam lançando o disco “who is this america”. O “Antibalas” é uma banda de afrobeat (gênero popularizado nos anos 70 pelo nigeriano Fela Kuti, que morreu de Aids em 1997) do Brooklyn, NY - EUA, que mistura, desde 1998, música latina, yorubá (parecido com o do candomblé), dub, jazz e funk. Além dessa salada, o que construiu uma sonoridade original, uma outra característica do grupo são os inúmeros discursos políticos que tomam conta de suas apresentações ao vivo e as prolongadas jams sessions com15, 20 e até 25 minutos de duração.

A banda acabou de lançar o seu quarto disco: "Security". O álbum tem a co-produção de John McEntire, do Tortoise. A escola musical do grupo vem das festas organizadas no Brooklin - bairro onde ainda residem. Segundo crítica de Rodrigo Silveira, um dos fundadores do Selo Instituto, o último álbum da banda é explosivo e polirrítmico, “estão ali as frases de metais bem demarcadas, a linha de baixo e a bateria quebradas, soprando as brasas, mantendo um calor setentão, mas estão presentes, também, alguns sons sobrenaturais, que assombram muitos discos do Tortoise”.

Eu prefiro os três primeiros (Talkatif, Liberation Afro Beat vol-1 e Who is This América), acho mais sem frescuras e mais afro-latino, sem muita papagaiada de efeitos sinistros e climinhas para chill-outs.