
quinta-feira, 9 de julho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009

(de Edgar Allan Poe)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhão também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Nauqele veludo one ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Édem de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
*Versão de Fernando Pessoa, o poeta
quarta-feira, 3 de junho de 2009
UM GRANDE FODA-SE!
"Não mais pintores, não mais literatos, não mais músicos, não mais escultores, não mais religiões, não mais imperialistas, não mais anarquistas, não mais socialistas, não mais bolcheviques, não mais políticos, não mais proletários, não mais democratas, não mais burgueses, não mais aristocratas, não mais exército, não mais polícia, não mais pátrias, enfim chega de todas estas imbecilidades, mais nada, mais nada, nada, nada".
Zappa purinho...
Meio Walter Franco, ou Uakiti (Download) até.
Ou não...
Um quase Walter Smetak( Download),
meio Zé Rodrix ((1974) Quem sabe sabe)
HermetoPascoal (Download Audio), Djalma Correa (Download), Tom Zé (Download).
Ou talvez, quem sabe,
por via das dúvidas
um, quando inspirado, Arrigo Barnabé (Download);
domingo, 31 de maio de 2009
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Rock Bar
sexta-feira, 15 de maio de 2009
HC com chopp escuro
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A senha é: Punchdrunk
quinta-feira, 12 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
Filosofia de Monsueto

Sambista, cantor, compositor, instrumentista, pintor e ator, Monsueto nasceu no Rio de Janeiro, na Gávea e foi morar no morro do Pinto, no dia 4 de novembro de 1924. Com menos de três anos ficou órfão de mãe e pai e foi criado pela avó e por uma tia. Na adolescência, trabalhou como guardador de carros no Jockey Club.
Estudou até o quinto ano primário. Aos 15 anos, já tocava em baterias de escola de samba e aos 17 começou a trabalhar como baterista free lancer em bailes de gafieira e cabarés. Prestou serviço militar no Forte de Copacabana e ao sair casou-se com Maria Aparecida Carlos, indo morar em Vieira Fazenda, subúrbio carioca. Lá, abriu uma tinturaria, a exemplo de seu irmão Francisco, que também fora proprietário de uma tinturaria na qual chegou a trabalhar. Apesar de ter seu próprio negócio, continuou tocando na noite, freqüentando os pontos de encontro de músicos, principalmente nas redondezas do Teatro João Caetano. Teve seis filhos.
Morreu em 17 de fevereiro de 1973. Passou pelas mais diversas escolas de samba, mas nunca possuiu um vínculo com nenhuma.
O “Mora na filosofia dos sambas de Monsueto” foi lançado em 1962 pela Odeon e é composto praticamente por pout-pourris. Este formato pout-pourri deu um charme maior ao disco, pois os sambas do Monsueto tem um estilão de samba-enrredo na sua execução, lembrando muito uma bateria de escola de samba (a primeira música, instrumental, já entrega isso). São elas:
Mora na Filosofia dos Sambas de Monsueto
01 - Bateria e Solo de Percussão
02 - Mora na Filosofia / Couro do Falecido
03 - Tá pra Acontecer - Levou Fermento
04 - Me Empresta Teu Lenço / Me Deixa em Paz
05 - Rua Dom Manuel / Senhor Juiz
06 - A Fonte Secou
07 - Copacabana de Tal / Este Samba tem Parada
08 - Água e Azeite / Na Menina dos Meus Olhos
09 - Lamento da lavadeira / Na Casa de Antônio Job
10 - No Molhado / Morfeu
11 - Segunda Lua-de-Mel / Fogo no Morro
12 - Eu Quero Essa Mulher Assim Mesmo
Discografia
• Nega Pompéia/Q. G. do samba (1955) Mocambo 78
• Prova real/Bola branca (1957) Copacabana 78
• Ajudai o próximo/Eu quero essa mulher assim mesmo (1961) Odeon 78
• Mora na Filosofia dos Sambas de Monsueto (1962) Odeon LP
• Chica da Silva/Mané João (1963) Odeon 78
• Sambamba/Retrato de Cabral (1963) Orion 78
• O sucesso está na cara/Larga o meu pé (1964) Monsueto 78
Uma biografia mais completa sobre Monsueto pode ser encontrada no Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira.
quinta-feira, 5 de março de 2009
Nós vamos invadir sua praia
juliocaldeira@eshoje.com.br
Querem acabar com os quiosques. Aliás, querem eliminar a cervejinha à beira-mar e findar com o pagode, o batuque na mesa e os pés descalsos sambando descompromissados na areia. Dar fim à rara alegria coletiva e ao ganha pão dos desfavorecidos é o que querem. Olha que depois de Dorival Caymmi “quem não gosta de samba bom sujeito não é”.
Quais seriam os argumentos para acabar com os quiosques? Balneários mais limpos, bonitos e seguros? Quais seriam os critérios de limpeza, segurança e beleza? Mera estética sem valor cultural? Ou mero valor imobiliário sem estética cultural? Enfim, como diria Martinho da Vila, “batuque na cozinha sinhá não quer”.
“Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim”, que Paulinho da Viola larga a Portela e vem como um velho marinheiro trazendo o barco no nevoeiro: bem devagar. Afinal, não está nada esclareceido. Ainda há uma imensa bruma de interesses sobrevoando as praias capixabas.
Quem pode nos responder o que aconteceu com as Três Praias em Guarapari? Será que farão o mesmo com a Ilha do Frade e do Boi, em Vitória - isolar a área? Quiosque para batuque não pode, mas exclusividade para hotel de luxo e mansões é permitido? Será que querem que o povo fique acuado no morro? Zé Keti já tem a sua opinião: “daqui do morro eu não saio não”. Viu sinhá, não precisa ter medo do batuque, pois, “daqui do morro dá pra ver tão legal o que acontece aí no seu litoral”. Acontece é que continuaremos indo à praia, e vamos de “ultraje a rigor”.
quarta-feira, 4 de março de 2009
“Tratar a questão da violência só na parte policial é um grande equívoco”
Julio Caldeira
Em plena luz do dia, em um corriqueiro passeio à beira-mar, o que leva o cidadão? Cinco tiros. E o seu presente? A morte. É pertinente lembrar que, atualmente, nem mesmo a Segurança Pública capixaba pode mais andar no calçadão e tentar respirar um arzinho puro – se bem que em Camburi, por herança da Vale e da ArcelorMittal, ar puro é algo impossível, o que nos faz ter dúvidas de qual tragédia é a maior.
Porém é difícil aceitar que esta ainda seja uma das questões mais preocupantes em nossas vidas. Olha que o secretário de Segurança Pública do Estado, Rodney Rocha Murad, - depois de uma temporada em Brasília - vem trabalhando sério com relação a essa problemática. Assim como também o delegado chefe da Polícia Civil Júlio Cesar e o comandante da PM coronel Oberacy Emmerich - ambos, recém “Lobos de Temudjin” de Gengiskan.
Mas a maior questão, como bem disse Rodney, no passado é que “o problema do Brasil é de cultura. A gente se espanta com os crimes de sangue, mas ninguém fica indignado com a roubalheira dos ricos”. Mero engano senhor secretário. Todo crime revolta. E o cozer em banho-maria é o que mais deixa a população indignada. A coisa é muito mais profunda e nem um pouco delicada.
E como diria o sociólogo da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Testa, o problema da segurança pública é estrutural e não existe uma fórmula para resolver, de imediato, a questão da violência no Brasil. Segundo ele “é impossível você corrigir um problema de desvio estrutural em menos de uma década. Se não começarmos a fazer isso imediatamente, com coordenação estratégica entre todos os poderes, nós não teremos um bom resultado para as próximas gerações”. Então imagine como ficará o mundo para seus filhos e netos, caro cidadão.
“Tratar a questão da violência só na parte policial é um grande equívoco”, como diria Rodney Miranda – ainda nos tempos de Feira de Caruaru. Porém, qual seria o caminho secretário? Não vai culpar a mídia novamente não né? Afinal, a segurança pública não deveria é ser traduzida como paz social?
Enquanto isso, para não sofrer é melhor cantar, pois como vovó já dizia: quem canta seus males espanta. “Na Feira de Caruaru, faz gosto a gente ver, de tudo que há no mundo, nela tem pra vender”. Eta Gonzagão danado.